Reposição
de conteúdos
1.Industrialização
brasileira
Nesse tema, enfatizaremos o processo de industrialização brasileiro, que
permite compreender a consolidação de um pólo industrial no Sudeste e de
periferias industriais nas demais regiões do país. O objetivo é elucidar
conceitos e conteúdos fundamentais para o entendimento do espaço industrial
brasileiro, aliado ao trabalho conceitual, à perspectiva histórica e à abordagem
sobre a atual distribuição espacial da atividade industrial no território
nacional e, em particular, no Estado de São Paulo.
Para melhor entender o desenvolvimento industrial no Brasil e suas
fases, adotamos a noção de industrialização retardatária ou tardia.
A expressão industrialização retardatária ou tardia designa o fato de
que a industrialização brasileira somente foi iniciada no fim do século XIX, no
momento em que o capitalismo passava da fase competitiva para a monopolista. As
máquinas e a tecnologia utilizadas não foram produzidas no Brasil, mas
importadas dos países que já as desenvolviam havia mais de um século, provindas
principalmente da Inglaterra (onde ocorreu a Revolução Industrial). Isso gerou consequências
ao longo das demais fases de industrialização do Brasil, como por exemplo, a
difícil inserção do Brasil na Terceira Revolução Industrial ou Tecnológica,
desde as últimas décadas e ainda atualmente.
A Primeira Revolução Industrial no Brasil somente foi completada em
1930, tendo ocorrido com mais de cem anos de atraso em relação aos centros
mundiais do capitalismo. Entre outros fatores que contribuíram para que o
Brasil se mantivesse em um quadro de fraco desempenho industrial, até o início
do século XIX, foram as relações escravistas de trabalho, o pequeno mercado
interno, o Estado alheio à industrialização, as forças produtivas pouco
desenvolvidas, o passado colonial do Brasil, conforme o tema estudado
anteriormente “Gênese geoeconômica do território brasileiro”. Entre 1880 e
1930, foram implantados os principais setores da indústria de bens de consumo
não-duráveis ou indústria leve. Em função de se manter numa situação de
dependência em relação aos países mais industrializados, o Brasil não dispunha
de indústrias de bens de capital ou de produção, algo essencial para o
desenvolvimento econômico de uma nação ou país.
Antes
de prosseguir, vamos esclarecer os tipos de indústrias:
-
Indústria de bens de consumo ou leve:
a)
Indústria de bens de consumo não-duráveis: roupas, cosméticos, alimentos;
b)
Indústria de bens de consumo duráveis: automóveis, eletrodomésticos e móveis.
-
Indústria de bens intermediários ou de bens de capital: desenvolvimento de
máquinas e equipamentos para outras indústrias (autopeças, mecânica naval).
-
Indústria de bens de produção, de base ou pesada: transforma matéria-prima
bruta em produtos a serem utilizados por outras indústrias (extração de
minérios, refinaria de combustíveis fósseis, siderúrgica que processa minérios,
química).
A inserção do Brasil na Segunda Revolução Industrial também se deu com
cerca de cem anos de atraso em relação aos centros mundiais do capitalismo,
podendo ser dividida em dois períodos:
- de 1930
a 1955, que corresponde à política nacional desenvolvimentista do governo
Getúlio Vargas, responsável pelo início da implantação da indústria de base no
Brasil e;
- de 1956
a 1980, que, inicialmente alicerçado no plano de metas que propunha “crescer 50
anos em 5”, marco da política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek de
Oliveira, corresponde ao período de incremento e consolidação da indústria de
base, com fortes investimentos estatais nos setores de energia e transportes,
com vistas a fortalecer as condições estruturais para o ingresso do capital
internacional no Brasil.
No primeiro período (1930-1955), destacamos a política nacionalista da
Era Vargas (1930-1945) e de seu segundo governo (1952-1955), que se
caracterizou pelo desenvolvimento autônomo com base industrial. Um exemplo foi
a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ),
cujo decreto-lei, que determinou sua criação, foi assinado em 30 de janeiro de
1941. A CSN foi um marco importante para a industrialização do Brasil, um
impulso, em virtude da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), pois o aço é
matéria-prima fundamental para diversos setores industriais. Resultado de um
projeto autônomo de desenvolvimento industrial na década de 1940, a CSN foi
privatizada em 1993, deixando de ser uma empresa estatal (do Estado).
O segundo período (1956-1980) pode ser subdividido em três:
a) de
1956 a 1961, que corresponde ao mandato de Juscelino Kubitschek, no qual
ocorreu o incremento da indústria de bens de consumo duráveis (principalmente
automóveis e eletrodomésticos) e de setores básicos (energia elétrica e
siderurgia). As diretrizes gerais quanto à industrialização dos governos Vargas
e Kubitschek basearam-se no processo de substituição de importações. Contudo,
no segundo caso (Era Kubitschek), foi adotado um modelo de desenvolvimento
associado ao capital estrangeiro. A política industrial do período JK ratificou
(confirmou) a concentração industrial brasileira no Sudeste. O modelo
industrial característico deste período atrelava-se diretamente à necessidade
de manter a produção de bens duráveis nas proximidades dos pólos geradores de
matéria-prima, ou seja, da produção siderúrgica e da disponibilidade de
recursos energéticos. Além disso, nesta região também se concentrava a maior
parte do mercado consumidor. Esta industrialização foi parte do Plano de Metas,
com o lema: “crescer 50 anos em 5”.
- de 1962
a 1964, corresponde a um período de instabilidade e tensão política (Ditadura).
Por este motivo, foi acompanhado pela estagnação e declínio da economia e da
indústria no Brasil;
- de 1964
até meados de 1980, implantou-se a modernização conservadora (projetos de
crescimento econômico, principalmente durante os governos militares, sem a
inclusão de avanços na área social), aconteceu o “milagre econômico brasileiro”
(para designar o fato de que, no contexto dos governos militares e do projeto
“Brasil-Potência”, entre 1967 e 1974, o País cresceu mais de 10% ao ano em
média à custa de um endividamento crescente no exterior), e a “década perdida”
(1980), na qual o país esteve submetido a fortes constrangimentos econômicos, financeiros
e, sobretudo, sociais.
Referente à distribuição espacial da atividade industrial no Brasil, a
concentração industrial aconteceu na região Sudeste, particularmente no Estado
de São Paulo, desde meados do século XIX até a década de 1970, como aparece no
mapa “Brasil: distribuição espacial da indústria, 2002”, abaixo:
Figura 1 - Brasil: distribuição espacial da indústria, 2002.
O desenvolvimento urbano intenso, concentrado principalmente na região
que forma hoje a Grande São Paulo, foi resultado do processo de
industrialização que ocorreu na região, resultado de uma economia de escala
capitalista, típica do período fordista: a concentração diminuía os custos de
produção, pois a proximidade física reduzia os gastos com o transporte de
matéria e mão-de-obra, além de maximizar o uso da infraestrutura instalada. O
fordismo organizava a linha de montagem de cada
fábrica para produzir mais, controlando melhor as fontes de matérias-primas e
de energia, os transportes, a formação da mão-de-obra.
Há diferença entre descentralização e desconcentração industrial: a
primeira pode ser entendida como a mudança física (parcial ou total) de uma
unidade industrial ou da produção industrial de uma área territorial para
outra, como, por exemplo, do Estado de São Paulo para outros Estados
brasileiros ou da Região Metropolitana de São Paulo para o interior paulista;
já a expressão desconcentração industrial costuma ser empregada para designar
alterações na distribuição espacial absoluta ou relativa de variáveis como
número de estabelecimentos, pessoal ocupado, valor da produção e valor da
transformação industrial. Assim, desde a década de 1910 verificou-se uma
alteração no processo de desenvolvimento do Estado de São Paulo, com a
diminuição da concentração industrial e populacional, que vinha ocorrendo desde
o começo do século na Região Metropolitana de São Paulo. Para fundamentar essa
explicação, tal processo resultou de três fatores:
a) o II Plano Nacional de Desenvolvimento
(PND, 1975-1979), que instituiu uma política econômica bastante clara de
descentralização industrial de São Paulo para o resto do País, enfatizando
vantagens comparativas e especializações regionais. Como exemplos, podemos
citar a exploração de minérios em Carajás (PA), Trombetas (PA), Caraíba (BA),
Patos (MG), as siderúrgicas de ltaqui (MA), Tubarão (ES) e Açominas (MG), as
petroquímicas de Camaçari (BA) e Paulínea (SP), a fábrica de automóveis da Fiat
em Betim (MG), os incentivos à CSN e Vale do Rio Doce (RJ);
b) a deseconomia de escala, isto é, a perda
das vantagens comparativas da produção em função dos altos custos produtivos,
resultado de uma organização sindical forte, salários elevados, valores de
terrenos e impostos elevados. Assim, a guerra fiscal, ou mesmo a isenção de
impostos, estimula a deseconomia, ou seja, várias cidades oferecem vantagens
para a indústria — menor imposto, grandes terrenos, infraestrutura, mão-de-obra
barata, por exemplo — e a que oferecer melhores benefícios, acaba atraindo a
indústria. E a cidade acaba ganhando chances de alavancar seu desenvolvimento;
c) a
expansão da infraestrutura no Estado facilitou a dispersão das atividades
produtivas para regiões próximas à metrópole do Estado de São Paulo.
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