Cubatão foi a primeira cidade do país a se industrializar. Foi o
símbolo da transformação do Brasil rural no Brasil industrial na década
de 50. A cidade foi escolhida porque reunia vários atributos. Ficava num
vale protegido pela Serra do Mar (o que mais tarde se revelou um
pesadelo por dificultar a dispersão de poluentes), tinha abundância de
água (a usina Henry Borden foi inaugurada em 1926), e estava no meio do
caminho entre o planalto e o porto de Santos, já o maior do país.
Em 1955 foi inaugurada a Refinaria Presidente Bernardes, da
Petrobras, e na década seguinte a Cosipa, que atraíram uma série de
indústrias que passaram a usar seus subprodutos como insumos ou
combustível.
A construção do parque industrial atraiu gente principalmente dos
Estados do Norte, Nordeste, e do sul de Minas Gerais. Estima-se que 70%
da mão de obra era de fora. Os migrantes passaram a morar nos arredores
das futuras unidades industriais — uma delas a Vila Parisi, que chegou a
ter milhares de habitantes antes de a população ser removida.
No início da década de 80 as pessoas conviviam com o aumento de
doenças pulmonares. Mas o ponto de inflexão foi a percepção do elevado
número de crianças recém-nascidas com anencefalia (sem cérebro). “Chegou
um momento em que o coveiro do cemitério de Cubatão se recusou a
enterrar as crianças com anencefalia, ele ficou muito assustado. Graças à
percepção desse homem, Cubatão ganhou atenção nacional e
internacionalmente”, diz o biomédico Paulo César Naoum. Ele foi um dos
responsáveis por associar a poluição à alta incidência de anencefalia no
município, em 1983.
Naoum avaliou quase 500 amostras de sangue da população e constatou
que 35% delas estavam intoxicadas por poluentes. Essa intoxicação se
manifestava por um aumento do nível de uma hemoglobina alterada chamada
metahemoglobina. Baseado nessa constatação ele lançou a hipótese. Se uma
mulher tivesse aquele nível de metahemoglobina no primeiro mês de
gestação, não chegaria oxigênio suficiente para o desenvolvimento das
células do embrião. “Não chegando oxigênio, as células não se dividem.
Não se dividindo, não o cérebro não se forma. Foi uma constatação
científica rasa e sem contestação”, lembra Naoum, pós-doutor em
bioquímica clínica pela Universidade de Cambridge, Inglaterra, e
ex-diretor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio
Preto (SP).
A partir daquele momento todo mundo ficou preocupado. “Levamos esses
dados em congressos científicos, publicamos em revistas científicas
importantes e fizemos chegar às mãos das redes de televisão e jornais”,
diz Naoum.
Em 1983 as emissões de material particulado no polo industrial
chegavam a alucinantes 363 mil toneladas ao ano, quase mil toneladas por
dia. Eram constantes os episódios críticos de poluição do ar na área
industrial, que extrapolavam a casa dos 500 mcg/m3 (estado de
emergência) por dia. O padrão de qualidade da legislação brasileira para
o intervalo de 24 horas é de 150 mcg/m3. Um documentário de uma TV
francesa traduziu ao mundo o que isso significava: as crianças da Vila
Parisi nunca haviam visto flores nem borboletas, o que deu ao bairro a
alcunha de Vale da Morte.
O então governador Franco Montoro criou o programa de controle da
poluição ambiental em Cubatão, dividido em projetos, começando com o
controle de fontes de poluição do ar, água e solo de maior potencial
poluidor, classificadas como primárias, entre 1983 e 1994. As empresas
passaram a usar os mesmos filtros das correspondentes no exterior,
instalaram lavadores de gases e unidades para tratar efluentes pluviais.
Há 20 anos, na Eco 92, a ONU outorgava o selo verde a Cubatão, elegendo
a cidade como exemplo de recuperação ambiental.
Segundo a Cetesb, hoje os volumes de emissão de material particulado,
o primeiro poluente a ser atacado, são 99% menores em relação aos
níveis de 30 anos atrás.
As indústrias já investiram cerca de US$ 1 bilhão em tecnologia para
reduzir, controlar e monitorar 320 fontes de poluição. Na década de 80,
havia mil reclamações por ano. Hoje são menos de 70. E as licenças de
operação passaram a ser renovadas a cada dois anos.
Quando encampou a Cosipa, em 1993, a Usiminas colocou em prática um
plano de atualização tecnológica. Os investimentos superaram US$ 480
milhões em equipamentos para controle de resíduos, emissões atmosféricas
e efluentes líquidos. Os maquinários instalados reduziram as emissões
atmosféricas em mais de 95%. A modernização logrou à empresa uma série
de conquistas, entre as quais o ISO 14001, em 1999, que atesta os mais
elevados níveis de gestão ambiental. Outro exemplo: a Petrocoque, que
produz coque de petróleo calcinado, destinou
R$ 150 milhões em equipamentos e investe outros R$ 600 mil na manutenção dos sistemas.
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