Rafael Fernandes

São Paulo, São Paulo, Brazil
Professor efetivo da rede pública do Estado de São Paulo na escola Dr. Carlos Augusto de Freitas Villalva Jr. Atualmente Conselheiro Estadual da APEOESP - Sindicato dos professores do Estado de São Paulo - Regional Sudeste Centro.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Cubatão - Recuperação Ambiental





Cubatão foi a primeira cidade do país a se industrializar. Foi o símbolo da transformação do Brasil rural no Brasil industrial na década de 50. A cidade foi escolhida porque reunia vários atributos. Ficava num vale protegido pela Serra do Mar (o que mais tarde se revelou um pesadelo por dificultar a dispersão de poluentes), tinha abundância de água (a usina Henry Borden foi inaugurada em 1926), e estava no meio do caminho entre o planalto e o porto de Santos, já o maior do país.
Em 1955 foi inaugurada a Refinaria Presidente Bernardes, da Petrobras, e na década seguinte a Cosipa, que atraíram uma série de indústrias que passaram a usar seus subprodutos como insumos ou combustível.
A construção do parque industrial atraiu gente principalmente dos Estados do Norte, Nordeste, e do sul de Minas Gerais. Estima-se que 70% da mão de obra era de fora. Os migrantes passaram a morar nos arredores das futuras unidades industriais — uma delas a Vila Parisi, que chegou a ter milhares de habitantes antes de a população ser removida.
No início da década de 80 as pessoas conviviam com o aumento de doenças pulmonares. Mas o ponto de inflexão foi a percepção do elevado número de crianças recém-nascidas com anencefalia (sem cérebro). “Chegou um momento em que o coveiro do cemitério de Cubatão se recusou a enterrar as crianças com anencefalia, ele ficou muito assustado. Graças à percepção desse homem, Cubatão ganhou atenção nacional e internacionalmente”, diz o biomédico Paulo César Naoum. Ele foi um dos responsáveis por associar a poluição à alta incidência de anencefalia no município, em 1983.
Naoum avaliou quase 500 amostras de sangue da população e constatou que 35% delas estavam intoxicadas por poluentes. Essa intoxicação se manifestava por um aumento do nível de uma hemoglobina alterada chamada metahemoglobina. Baseado nessa constatação ele lançou a hipótese. Se uma mulher tivesse aquele nível de metahemoglobina no primeiro mês de gestação, não chegaria oxigênio suficiente para o desenvolvimento das células do embrião. “Não chegando oxigênio, as células não se dividem. Não se dividindo, não o cérebro não se forma. Foi uma constatação científica rasa e sem contestação”, lembra Naoum, pós-doutor em bioquímica clínica pela Universidade de Cambridge, Inglaterra, e ex-diretor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de São José do Rio Preto (SP).
A partir daquele momento todo mundo ficou preocupado. “Levamos esses dados em congressos científicos, publicamos em revistas científicas importantes e fizemos chegar às mãos das redes de televisão e jornais”, diz Naoum.
Em 1983 as emissões de material particulado no polo industrial chegavam a alucinantes 363 mil toneladas ao ano, quase mil toneladas por dia. Eram constantes os episódios críticos de poluição do ar na área industrial, que extrapolavam a casa dos 500 mcg/m3 (estado de emergência) por dia. O padrão de qualidade da legislação brasileira para o intervalo de 24 horas é de 150 mcg/m3. Um documentário de uma TV francesa traduziu ao mundo o que isso significava: as crianças da Vila Parisi nunca haviam visto flores nem borboletas, o que deu ao bairro a alcunha de Vale da Morte.
O então governador Franco Montoro criou o programa de controle da poluição ambiental em Cubatão, dividido em projetos, começando com o controle de fontes de poluição do ar, água e solo de maior potencial poluidor, classificadas como primárias, entre 1983 e 1994. As empresas passaram a usar os mesmos filtros das correspondentes no exterior, instalaram lavadores de gases e unidades para tratar efluentes pluviais. Há 20 anos, na Eco 92, a ONU outorgava o selo verde a Cubatão, elegendo a cidade como exemplo de recuperação ambiental.
Segundo a Cetesb, hoje os volumes de emissão de material particulado, o primeiro poluente a ser atacado, são 99% menores em relação aos níveis de 30 anos atrás.
As indústrias já investiram cerca de US$ 1 bilhão em tecnologia para reduzir, controlar e monitorar 320 fontes de poluição. Na década de 80, havia mil reclamações por ano. Hoje são menos de 70. E as licenças de operação passaram a ser renovadas a cada dois anos.
Quando encampou a Cosipa, em 1993, a Usiminas colocou em prática um plano de atualização tecnológica. Os investimentos superaram US$ 480 milhões em equipamentos para controle de resíduos, emissões atmosféricas e efluentes líquidos. Os maquinários instalados reduziram as emissões atmosféricas em mais de 95%. A modernização  logrou à empresa uma série de conquistas, entre as quais o ISO 14001, em 1999, que atesta os mais elevados níveis de gestão ambiental. Outro exemplo: a Petrocoque, que produz coque de petróleo calcinado, destinou
R$ 150 milhões em equipamentos e investe outros R$ 600 mil na manutenção dos sistemas.

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