Rafael Fernandes

São Paulo, São Paulo, Brazil
Professor efetivo da rede pública do Estado de São Paulo na escola Dr. Carlos Augusto de Freitas Villalva Jr. Atualmente Conselheiro Estadual da APEOESP - Sindicato dos professores do Estado de São Paulo - Regional Sudeste Centro.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Reposição de conteúdos 2º ano - Os circuitos de Produção - Espaço agropecuário - RESENHA CRITICA - Entrega até 01/09/2015

Os circuitos da produção – Parte 2: O espaço agropecuário 

Vamos trabalhar conteúdos fundamentais sobre o espaço agropecuário brasileiro, partindo de conceitos essenciais acerca da modernização da agricultura brasileira e questões noticiadas pela mídia. Os objetivos são adquirir noções básicas, a organização e as contradições da produção e as relações de trabalho ao lado de circuitos de produção modernos, o campo brasileiro que convive com a expropriação de trabalhadores de suas terras e a injusta estrutura fundiária brasileira. 

É importante que a vídeo aula abaixo seja assistida como introdução ao tema ( assistir  a partir de 11’36’’): 



É necessário questionar como se explica o enorme montante de exportações do agronegócio ao lado da existência de pessoas sem terra para trabalhar? Essa é uma das contradições da realidade agrária do Brasil, expondo a injusta estrutura fundiária brasileira: um moderno e conservador circuito de produção ao lado da expropriação de trabalhadores de suas terras no campo brasileiro como podemos observar nas imagens abaixo: 
Alguns conceitos básicos permitem desenvolver o tema da organização da produção na agricultura brasileira e as relações de trabalho: 

- latifúndio: grandes propriedades dedicadas a uma produção voltada para o mercado interno ou externo, nas quais a produção é realizada por uma força de trabalho que pode ser classificada em cinco tipos (o morador ou agregado, o parceiro, o trabalhador assalariado, o diarista ou bóia-fria e o arrendatário); 

- unidade familiar produtora de mercadorias: utilização da terra realizada por pequenos proprietários e arrendatários (como, por exemplo, a produção hortifrutigranjeira nos arredores de grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, para negócios e não para próprio sustento); 

- unidade familiar de subsistência: exploração da terra realizada por pequenos proprietários (minifundiários ou não), arrendatários, parceiros ou, ainda, posseiros. O trabalho empregado é familiar e a produção visa, principalmente, a atender às necessidades de subsistência do grupo, embora nessas unidades, quando maiores em extensão, encontra-se a associação de culturas de mercado com as de subsistência; 

- empresa agropecuária capitalista: marcada pelas relações assalariadas de trabalho ou de produção; 

- complexo agroindustrial: integração técnica intersetorial entre a agropecuária e as indústrias que produzem para a agricultura (máquinas e insumos); 

- agroindústrias: processam matérias-primas agropecuárias e as transformam em produtos industrializados (queijo, manteiga, óleos vegetais, extratos de tomate, suco de laranja, álcool etílico, açúcar etc.).  

- agrobusiness: negócio agropecuário que corresponde à soma total de operações de produção e distribuição de suprimentos (insumos**), operações de produção nas unidades rurais e armazenamento, processamento e distribuição dos produtos e itens produzidos por ele. 
os
**Insumos são elementos que entram no processo de produção de mercadorias ou serviç (máquinas e equipamentos, trabalho humano), são recursos usados na produção de algo. 

O quadro abaixo explica a modernização da agricultura brasileira e a intensificação do desenvolvimento do capitalismo no campo, ocorrida a partir das décadas de 1950 e 1960, que aprofundou esse tipo básico de organização da produção e, caracterizando, ao mesmo tempo, sua modernização. 

Anos 1950 
Aumento do uso de insumos modernos, basicamente por meio de importações. 
Anos 1955-65 
Implantação de indústrias no Brasil, inclusive de indústrias de base. 
A industrialização da agricultura 
Permitiu a implantação de indústrias para a agricultura e o surgimento da agropecuária moderna e de agroindústrias oligopólicas (grandes empresas, em pequeno número, que controlam a oferta – preço – dos produtos). 
Anos 1965-75 
Internalização (introdução) de indústrias para a agropecuária (máquinas, equipamentos etc.). 
Anos 1975-2000 
Integração de capitais (fusão de capitais industriais, bancários, comerciais e agropecuários, na formação de empresas rurais). 
Imprimiu novo padrão agrícola representado por mudanças nas bases técnicas de produção agropecuária, comandado, agora, pelos complexos agroindustriais. 


A modernização da agricultura brasileira, nas últimas décadas, modificou a organização da produção e as relações de trabalho no campo. A fruticultura e a soja, por exemplo, são cultivos que sofreram transformações nesse processo, apesar de conservarem diferenças importantes em seus respectivos sistemas produtivos. A cultura da soja exige, na maioria dos casos, grandes propriedades, imensa mecanização e pouca mão-de-obra.  A fruticultura se desenvolve, geralmente, em propriedades médias e pequenas, com o emprego de máquinas mais leves e maior número de trabalhadores ou mão-de-obra.  Os estabelecimentos rurais, onde ocorre a produção da soja, requerem investimentos mais elevados de capital quando comparados às unidades produtivas da fruticultura; em função da relação entre investimento e mão-de-obra ocupada, os empregos diretos gerados pela cultura da soja têm custo mais alto do que na fruticultura e, por último; para ser lucrativa, ao contrário da fruticultura, a soja requer grande escala de produção, o que em parte explica sua expansão por vastos espaços do país. 

A estrutura fundiária brasileira e os conflitos e movimentos sociais no campo 

A estrutura fundiária brasileira é historicamente concentrada. E isso significa que, tradicionalmente, poucas pessoas são donas de vastas extensões de terras enquanto a maioria da população não possui terras no Brasil. 

Desde o início da colonização a implantação dos regimes de capitanias hereditárias e de sesmarias transferiu a posse de imensos latifúndios para os benfeitores da coroa portuguesa. O controle dessas terras por parte dessa elite latifundiária baseou-se na expropriação de nativos indígenas e no estabelecimento de plantations, um sistema agrícola monocultor, escravista e voltado para exportações praticado nesses latifúndios. 


Com a proclamação da independência, em 1822, foi extinto o sistema de sesmarias permitindo a proliferação do mecanismo de posse e o aumento da violência no campo embasada na disputa por terras travada pelos latifundiários através de seus homens armados. Nesse contexto, ainda com a escravidão em vigor, a luta pela terra se travava, então, numa camada social elevada, a dos grandes proprietários de terras.   


Para evitar a expansão desses conflitos entre grandes posseiros, o Império aprovou, em 18 de setembro de 1850, a Lei de Terras, regulamentada em 30 de janeiro de 1854, que restringia o acesso a terra pela compra. Excetuavam-se as terras dentro da faixa de 10 léguas dos limites do império, que poderiam ser doadas pelo governo, o que muito foi feito para fins de ocupação do interior e garantia de posse no caso de contestações futuras dos países vizinhos. 


Mesmo com o fim da escravidão e a proclamação da república, os grandes latifundiários mantiveram grande poder político, o que impediu os avanços de qualquer discussão sobre a distribuição de terras. Somente nos anos 1950 e 60, em meio ao processo de modernização do Brasil nas cidades e nos campos, que a discussão sobre a reforma agrária ganha força a partir das reivindicações das ligas camponesas, nascidas no Nordeste. As ligas camponesas pediam reforma agrária “na lei ou na marra”, mas sucumbiram diante da repressão do regime militar.  


Os militares aprovaram o Estatuto da Terra (Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964). Através dele foi criado o conceito de “Módulo Rural”, baseado na noção de “propriedade familiar”, definida como unidade de medida, expressa em hectare, que busca refletir a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica do imóvel rural, a forma e as condições do seu aproveitamento econômico. Todos teriam direito à terra, mas, na prática, a reforma agrária não prosperou.  


Em 1979, a Lei nº 6.746, de 10 de dezembro daquele ano, altera o Estatuto da Terra determinando que a cobrança de impostos seja feita com base no número de Módulos Fiscais de cada propriedade. E define que o tamanho dos módulos fiscais é determinado por cada município em função do tipo de exploração predominante; da renda obtida na exploração predominante; de outras explorações existentes no Município que, embora não predominantes, sejam expressivas em função da renda ou da área utilizada; e no conceito de propriedade familiar.  


Esse conceito de Módulo Fiscal é importante pois, com a Lei 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, ele tornou-se referência para a classificação das propriedades rurais em quatro tipos, quais sejam:  


1 – Minifúndio: imóvel rural de área inferior a 1 (um) módulo rural; (Decreto n.º 55.891 de 31 de março de 1965 em seu art. 13, I, c/c o art. 6º, II);  


2 – Pequena Propriedade: imóvel rural de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais;  


3 – Média Propriedade: imóvel rural de área compreendida entre 4 (quatro) e 15 (quinze) módulos fiscais;  


4 – Grande Propriedade: imóvel rural de área superior a 15 (quinze) módulos fiscais.  


O processo de redemocratização foi importante para a retomada das lutas camponesas por reforma agrária. Sendo assim, em 1984, muitos camponeses reuniram-se em Cascavel, no Paraná, onde organizaram a criação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Desde então esse tem sido o principal movimento social em luta por reforma agrária no Brasil. De inspiração marxista e cristã-progressista, o MST nasce com o apoio da Pastoral da Terra. 

Não obstante os muitos avanços legais e institucionais que concorrem para uma estrutura fundiária mais justa e menos concentrada, os conflitos no campo seguem intensos e marcados por alto nível de violência. Diversos atores sociais entre os quais os latifundiários, posseiros, grileiros, madeireiros, garimpeiros, extrativistas, indígenas e quilombolas, seguem protagonizando disputas mortais pelo controle da terra. Chamou bastante atenção o genocídio dos índios Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, praticado por membros da agroindústria canavieira.  

Desde o início da política de assentamentos da reforma agrária, mais de um milhão e duzentas mil famílias já foram assentadas. Contudo, a terra não basta. Essas famílias precisam de assistência técnica, comercial e financeira para que sua produção possa viabilizar aquilo que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o INCRA, preconiza como sua função primordial: o desenvolvimento de um campo com justiça social, produção de alimentos, trabalho, renda, cidadania e sustentabilidade econômica e ambiental. O desafio ainda é grande e os trabalhadores continuam na luta. 

Cabra marcado para Morrer” – Um exemplo da luta no campo 

As Ligas Camponesas vinham sendo criadas desde meados dos anos 50 com o objetivo de conscientizar e mobilizar o trabalhador rural na defesa da reforma agrária. Durante o governo de João Goulart (1961-64), o número dessas associações cresceu muito e, junto com elas, também se multiplicavam os sindicatos rurais. Os camponeses, organizados nessas ligas ou em sindicatos ganharam mais força política para exigir melhores condições de vida e de trabalho. 

Início da década de 60, Um líder camponês, João Pedro Teixeira, líder camponês da Paraíba, assassinado pelo "latifúndio" por sua luta para organizar os trabalhadores rurais do Nordeste, como mostra os traumas do processo histórico de formação da nação brasileira. 
As filmagens de sua vida, interpretada pelos próprios camponeses, foram interrompidas pelo golpe militar de 1964. Dezessete anos depois, o diretor retoma o projeto e procura a viúva Elizabeth Teixeira e seus dez filhos, espalhados pela onda de repressão que seguiu ao episódio do assassinato. O tema principal do filme passa a ser a trajetória de cada um dos personagens que, por meio de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma família de camponeses durante os longos anos do regime militar. 

O filme mostra o período da ditadura militar, o sofrimento das pessoas pobres, camponeses e industriários lutando por melhores condições de vida e salários, período esses que mostra a lutas pelos sindicatos e ligas camponesas sofrendo perseguições pelos políticos e latifundiários, mostrando que nesse país manda a classe oligárquica, mas que a massa não se cala e vai à luta por melhores condições de vida. 




Atividade Avaliativa Individual 
(deve ser manuscrita – cópias não serão consideradas) 


Faça uma resenha crítica (entre 20 e 30 linhas) do filme “Cabra marcado para Morrer”, disponível abaixo:

 
A resenha deverá ser entregue até o dia 01/09/2015

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Reposição de conteúdos - 3. A questão étnico - cultural



Reposição de conteúdos - 3. A questão étnico-cultural

            Com base nas noções de zonas ou focos de tensão, estudaremos os principais conflitos étnico-culturais e religiosos em andamento ou que tiveram intensa repercussão mundial, principalmente nas últimas décadas. É um conteúdo enfatizado pela mídia nacional e internacional, relacionado às questões políticas mundiais e cujo envolvimento e compreensão são fundamentais.
            A Geografia Política constitui-se num dos ramos mais fecundos da ciência geográfica e não deve ser confundida com a Geopolítica, pois, em síntese, o principal objetivo da primeira é analisar a dinâmica dos processos políticos no espaço, enquanto a segunda relaciona-se mais diretamente com as questões estratégicas e militares de determinado país. As zonas ou focos de tensão são os principais elementos de análise da Geografia Política (de acordo com o geógrafo francês Yves Lacoste) e podem ser definidos como espaços geográficos em que ocorrem, de forma aguda, conflitos de interesse entre duas ou mais unidades políticas – países – ou entre grupos humanos organizados nacional ou internacionalmente.
            Observem o mapa “Principais conflitos, final do século XX” logo abaixo:




Quando fazemos uma análise sobre determinado foco de tensão, não devemos perder de vista, ao menos, cinco cuidados fundamentais:
- identificação das partes envolvidas no conflito;
- estudo da posição geográfica da área, pois, não raras vezes, a localização estratégica de uma área constitui um dos elementos-chave do foco;
- estudo das relações de poder entre as partes envolvidas no conflito, tendo por base as noções de “centro” e “periferia”, onde uma das partes (Estado ou grupo humano) possui maior poder político, econômico, financeiro e militar, ou seja, condições socioeconômicas dos “personagens” envolvidos no mesmo conflito;
- ter cuidado em relação aos textos e às informações que são lidos, identificando a ideologia de quem fez a análise ou descreveu os acontecimentos relacionados ao foco de tensão estudado (por exemplo, as interpretações que são veiculadas pela mídia, pois existem diversas versões sobre um mesmo foco de tensão, como as notícias sobre a Guerra e ocupação anglo-americana contra o Iraque, em 2003: as notícias veiculadas pela CNN, rede televisiva dos Estados Unidos eram contraditórias as notícias veiculadas pela Al Jazira, rede de televisão árabe);
- identificação dos interesses e das forças envolvidos, considerando que um foco pode ter uma ou várias causas essenciais – diretas e indiretas.
            No início da década de 1990, com a desmontagem da velha ordem mundial baseada na bipolarização, chegou-se a pensar que o mundo entraria em um período de paz e solidariedade entre os povos. Apenas nos seis primeiros anos, após a Guerra Fria (1947-1989), as chamadas Forças de Paz da ONU (que dispõem de instruções estritas para lançar fogo somente como último recurso) realizaram mais operações militares em áreas do mundo onde ocorriam conflitos do que nos 40 anos anteriores. Em função dessa realidade e de outros aspectos, a nova ordem mundial durante os anos 1990 também ficou conhecida como “(des)ordem mundial”.
            Isso ocorreu após o término da Guerra Fria e concomitantemente com o fim do denominado conflito Leste-Oeste, período a partir do qual os conflitos, em sua grande maioria, deixaram de ter a conotação ideológica (capitalismo x socialismo) do passado, e passaram a ser influenciados, mais intensamente, por questões separatistas, religiosas e étnicas. Vamos abordar alguns pontos principais a respeito dos conflitos regionais e a questão das identidades socioculturais (étnicas, tribais e religiosas) no espaço mundial e as principais áreas de ocorrência dos conflitos no mundo.





Oriente Médio: a questão palestina
Palestina é o nome dado, desde a Antigüidade, à região localizada ao sul do Líbano e a nordeste da Península do Sinai, entre o Mar Mediterrâneo e o vale do Rio Jordão. Para entender, é como se fosse um bairro, uma região sem identificação no mapa mundi, por não ser um país. A Palestina foi conquistada pelos hebreus ou israelitas (mais tarde também conhecidos como judeus) por volta de 1200 a.C., depois que aquele povo se retirou do Egito, onde vivera por alguns séculos. Mas as sucessivas dominações estrangeiras deram início a um progressivo processo de diáspora (dispersão) da população judaica, embora sua grande maioria ainda permanecesse na Palestina. Nas duas rebeliões dos judeus contra o domínio romano (em 66-70 e 133-135 d.C.), o resultado foi desastroso: o Templo de Jerusalém foi arrasado, do qual restou apenas o Muro das Lamentações e os judeus foram proibidos de viver em Jerusalém, intensificando a diáspora dos judeus. A partir de então, os israelitas espalharam-se. Em 638, a região foi conquistada pelos árabes, no contexto da expansão do islamismo, e passou a fazer parte do mundo árabe, embora sua situação política oscilasse ao sabor das constantes lutas entre governos muçulmanos rivais. Finalmente, de 1517 a 1918, a Palestina foi incorporada ao imenso Império Turco. Os turcos, embora muçulmanos, não pertencem à etnia árabe. Em 1896, o escritor austríaco, de origem judaica, Theodor Herzl fundou o Movimento Sionista, que pregava a criação de um Estado judeu na antiga pátria dos hebreus. Esse projeto, aprovado em um congresso israelita reunido em Genebra, teve ampla ressonância junto à comunidade judaica internacional e foi apoiado, sobretudo, pelo governo britânico (apoio oficializado em 1917, em plena Primeira Guerra Mundial, pela Declaração Balfour). No início do século XX, já existiam, na região, pequenas comunidades israelitas vivendo em meio à população predominantemente árabe. A partir de então, novos núcleos começaram a ser instalados, geralmente mediante compra de terras aos árabes palestinos. Durante a Primeira Guerra Mundial, a Turquia lutou ao lado da Alemanha e, derrotada, viu-se privada de todas as suas possessões no mundo árabe. A Palestina passou então a ser administrada pela Grã-Bretanha, mediante mandato concedido pela Liga das Nações. Depois de 1918, a imigração de judeus para a Palestina ganhou impulso, o que começou a gerar inquietação no seio da população árabe. A crescente hostilidade desta última levou os colonos judeus a criar uma organização paramilitar (a Haganah), voltada para a autodefesa e mais tarde, para operações de ataque contra os árabes. Apesar do conteúdo da Declaração Balfour, favorável à criação de um Estado judeu, a Grã-Bretanha tentou frear o movimento imigratório para não contrariar os Estados muçulmanos do Oriente Médio, com quem mantinha proveitosas relações econômicas; mas viu-se confrontada pela pressão mundial da coletividade israelita e, dentro da própria Palestina, pela ação de organizações terroristas. Após a Segunda Guerra Mundial, o fluxo de imigrantes judeus foi grande. Em 1947, a Assembléia Geral da ONU decidiu dividir a Palestina em dois Estados independentes: um judeu e outro palestino. Mas tanto os palestinos como os Estados árabes vizinhos recusaram-se a acatar a partilha proposta pela ONU. Em 14 de maio de 1948, foi proclamado o Estado de Israel, que se viu imediatamente atacado pelo Egito, Arábia Saudita, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano (1ª Guerra Árabe-Israelense). Os árabes foram derrotados e Israel passou a controlar 75% do território palestino. A partir daí, iniciou-se o êxodo dos palestinos para os países vizinhos. Atualmente, esses refugiados somam cerca de 3 milhões. Os 25% restantes da Palestina, correspondentes à Faixa de Gaza e à Cisjordânia, ficaram sob ocupação respectivamente do Egito e da Jordânia. A Cisjordânia incluía a parte oriental de Jerusalém, onde fica a Cidade Velha, de grande importância histórica e religiosa.



        

   Europa:

  ETA

            Os bascos possuem uma cultura e língua própria, ocupando uma região ao norte da Espanha e uma parte sul do território francês, na vertente leste dos Pirineus (cadeia montanhosa na Europa), virada para o Golfo de Biscaia, região denominada Euskal Herria (País Basco). Fundada em 1959, a organização ETA (Euzkadi Ta Askatasuna, que significa, na língua basca, “Pátria Basca e Liberdade”) luta pela autodeterminação e independência do País Basco e de Navarra, por meio de ações armadas e terrorismo, nas quais os principais alvos são membros da guarda civil e do governo espanhol. A ETA reivindica, em território espanhol, a região chamada Hegoalde ou País Basco do Sul, que é constituído por Álava, Biscaia, Guipúscoa e Navarra e no território francês, a região chamada Iparralde ou País Basco do Norte, que é constituído por Labour, Baixa Navarra e Soule. A ETA sobreviveu na clandestinidade durante a ditadura de Francisco Franco (1939-1975) e contou com o apoio da população e internacional, por ser considerada uma organização anti-regime, mas foi enfraquecendo devido ao processo de democratização em 1977. O seu lema é Bietan jarrai, que significa “seguir nas duas”, ou seja, na luta política e militar.



IRA
Em 1900, foi fundado o Partido Nacionalista (Sinn Fein, que significa “Nós Mesmos”), na região sul da ilha irlandesa, com o propósito de reivindicar a autonomia perdida para os ingleses e protestantes. No início dos 1970, originou-se uma facção militar, o IRA – Exército Republicano Irlandês, a partir do Sinn Fein. O IRA é um grupo paramilitar católico e reintegralista, que pretendia a separação da Irlanda do Norte do Reino Unido e reanexação à República da Irlanda, praticando operações de guerrilha contra alvos ingleses e protestantes, até 28 de julho de 2005, quando aumentou o cerco contra o terrorismo nos Estados Ocidentais (lado esquerdo do mapa mundi) a partir do início do século XXI, aumentando as pressões políticas para que o IRA abandonasse em definitivo suas táticas violentas. A principal razão pela qual o IRA lutava era a igualdade religiosa, visto que 75% da população norte-irlandesa era protestante e o pouco que restava, católica, o que fazia com que houvesse desigualdade e preconceito entre as religiões. Como os protestantes eram maioria, decidiam candidaturas políticas e plebiscitos, entre outros, impedindo que a vontade católica se manifestasse.


           Conflitos no Cáucaso (o caso da Chechênia)
            Dentre os conflitos étnicos ou de nacionalidades no interior dos países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes, antiga URSS), o caso dos movimentos separatistas da Tchetcheno-Inguchétia merece destaque. Trata-se de uma das ex-repúblicas que compunham a extinta URSS (1991). A Tchetcheno-Inguchétia reunia dois povos que lhe davam o nome, composta de população muçulmana. Era uma república autônoma antes da desintegração da União Soviética. Ninguém opôs maior resistência à conquista do Cáucaso pelos russos do que os tchetchenos, numa luta de oposição que remonta a 1818, mas cujo aprofundamento ocorreu em 1991, na ocasião da conturbada implosão da União Soviética. Posteriormente à desagregação desse país em 1991, os líderes políticos da Chechênia não aceitaram assinar o Tratado de Adesão à Federação Russa e proclamaram sua independência. Como o governo de Moscou não reconheceu essa iniciativa, a partir de 1994 passou a enviar tropas militares à Chechênia, acirrando os conflitos nessa antiga república soviética. Alguns dos interesses russos na região da Chechênia são a expansão de seu território e controle sobre as ricas áreas petrolíferas encontradas na região. Apesar de Moscou ter anunciado o fim das operações militares em 2000, os atentados contra as forças militares russas instaladas na Chechênia não cessaram.

África:

 Ruanda
            Embora em conflito desde a formação do país, o ponto alto do conflito entre as duas principais etnias do país, a tutsi e hutu, eclodiu em 1994, com a morte do presidente hutu Juvenal Habyariman, num acidente de avião provocado por um míssil. Em represália, as tropas da etnia hutu (85% da população do país) passaram a massacrar a minoria tutsi (14%) e os hutus de oposição. A Frente Patriótica Ruandesa (FPR), formada por extremistas tutsis exilados em Uganda, iniciou uma ofensiva que resultou no massacre de 800 mil hutus e na tomada do poder três meses depois. O saldo total da guerra foi de 1 milhão de mortos e 2,2 milhões de refugiados hutus nos países vizinhos (ex- Zaire, Uganda, Burundi e Tanzânia), de acordo com dados da ONU.




 Angola
            Essa longa guerra civil, nesse país, tem dois protagonistas envolvidos. De um lado, o MPLA (Movimento pela Libertação de Angola), no poder, e a UNITA (União Nacional pela Independência Total de Angola). Nos anos 1994-1995, um acordo de paz interrompeu o conflito e a ONU enviou tropas de paz. Mas em virtude do descontentamento diante do acordo, por parte da UNITA, esta se recusou a devolver áreas sob seu controle e integrar um governo de coalizão (acordo) nacional, o que conduziu ao reinício do conflito em 1999.




Ásia:
 Caxemira
            A Índia e o Paquistão são nações criadas a partir da desagregação do Império Britânico das Índias, em 1947. Durante a Guerra Fria, o Paquistão inclinou-se a favor dos EUA, enquanto a Índia buscou auxílio da ex-URSS, o que explica, em parte, o fato de ambos disporem, atualmente, de armas atômicas. Essas armas representam um perigo, diante de um conflito antigo entre os dois países, que se arrasta por mais de cinqüenta anos: a questão da Caxemira. A Caxemira é uma província do norte da Índia cujo território é composto por 90% montanhas e que faz fronteira com a China e com o Paquistão, com cerca de 220 mil km2. A região, compartilhada pela Índia (cerca de 100 mil km2), Paquistão (cerca de 80 mil km2) e China (cerca de 40 mil km2), tem sido alvo de disputas territoriais entre esses três países desde o final da década de 1940. A origem do conflito remonta à partilha da Índia britânica, que deu origem, em 1947, a dois países: o Paquistão, com maioria da população muçulmana, e a Índia, majoritariamente hindu. O marajá de Caxemira (Hari Singh) solicitou o apoio de tropas indianas para se defender da invasão das tribos Pathans e em retribuição, assinou o Instrumento de Acesso à União Indiana, concordando que a região se tornasse no estado indiano de Jammu e Caxemira. A partir de então, o Paquistão reivindica a realização de um plebiscito em razão de 2/3 da população, de 7 milhões de habitantes, ser composta de muçulmanos. Os indianos, por sua vez, não aceitaram realizar um plebiscito, muito embora tenham cedido um terço do território ao Paquistão (Azad Kashmir). Conseqüentemente, ao lado do surgimento de uma guerrilha, ocorreram vários atentados terroristas contra a presença indiana no restante da Caxemira, como parte de ações voltadas para sua integração futura ao Paquistão. A disputa entre muçulmanos e hindus levou os dois países a duas outras guerras (1965 e 1971), sendo ainda hoje a principal razão para a corrida armamentista nuclear.

 

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